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“Prá jogar futebol precisa estudar?

Por, Naiana Ortiz Boeno – professora da rede pública de ensino

Matéria Publicada em: 17/04/2018

Resumo: Este trabalho consiste na explicitação e reflexão do projeto de estudos Prá Jogar Futebol Precisa Estudar?, elaborado e desenvolvido coletivamente, entre a professora e a turma envolvida – terceiro ano do Ensino Fundamental - , cujo foco principal foi a busca pela ampliação de saberes acerca do futebol como resultado de estudos, aliado na construção da aprendizagem e também como forma de vida. Nesse sentido, houve a busca pelas respostas relacionadas ao assunto para estudo, unindo a interdisciplinaridade e a ludicidade com o interesse e a curiosidade das crianças, de acordo com cada faixa etária infantil. Desenvolver outras possibilidades de aprendizagem por meio de projetos de estudos, que envolvem conhecimentos de diferentes áreas do conhecimento e enfatizar o esporte e outras linguagens se tornou um desafio para todos. Os resultados em termos de aprendizagem e envolvimento superaram o esperado pela efetiva participação das crianças e das famílias durante o desenvolvimento do projeto. E para além disso, a percepção de que os estudos voltados para o esporte em questão possibilitaram que as crianças percebessem o quão importante é a prática esportiva e que o esporte e o estudo se fundem; fazendo com que não apenas tenhamos uma vida saudável, mas também sejamos bem sucedidos social e profissionalmente.

Introdução: O projeto Prá Jogar Futebol Precisa Estudar? relata e analisa a experiência desenvolvida com crianças do terceiro ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Fundamental Soares de Barros, neste primeiro trimestre de 2017. O mesmo teve por objetivo oportunizar momentos de estudos aos alunos com diversas linguagens, sejam elas corporal, musical, plástica, oral, escrita, sinestésica; ajustadas às diferentes situações diárias propostas; a fim de proporcionar a importância do estudo para a prática do futebol e sua inter-relação com a escola. Para além disso, desenvolver práticas que permitam que os alunos expressem suas ideias, sentimentos, necessidades e desejos e, com isso, possibilitar avanços no processo de construção de significados.

Metodologia: A turma iniciou o ano letivo fazendo uma apresentação para os colegas que não conheciam as crianças da sala, pois eram colegas novos. Então todos diziam seus nomes e algo que quisessem espontaneamente. Em um dado momento, um menino disse que queria estudar muito este ano para ser jogador de futebol; que já estava, inclusive, participando de uma escolinha de futsal, mas que logo iria ter que parar de estudar nessa escola, pois os treinos estavam lhe roubando tempo. Iria, com o passar do tempo, parar de estudar para se dedicar a ser um jogador de futebol profissional. Eis que surgiu a pergunta que norteou o projeto, pois uma menina levantou a seguinte questão: “mas prá jogar futebol não tem que estar estudando?” E foi um alvoroço na turma! Cada um tinha uma opinião. Uns diziam que precisava estudar muito. Já outros diziam que um jogador não teria tempo para estudar, então ele teria que parar, sim. E havia um terceiro grupo que não tinha opinião formada.

            Por um longo tempo discutimos esta questão, até que elencamos nossas dúvidas, escrevemos sobre nossas hipóteses, o que sabíamos e o que queríamos saber sobre o assunto em questão. Tratamos de pensar sobre o nome do nosso projeto e, considerando o interesse e curiosidade das crianças, pensando em seu pleno desenvolvimento, o projeto foi tomando forma.

            De forma lúdica e divertida em sala e após, no pátio da escola, aprendemos e exploramos a música “É uma partida de futebol”, do grupo musical Skank. Criamos uma paródia e depois uma nova música a partir desta estudada; fizemos uso do dicionário com ampliação de vocabulário, pois muitas palavras e gírias, estávamos conhecendo a partir de nossos estudos e pesquisa das crianças em casa com as famílias. Também realizamos pequenos textos individuais e coletivos a partir de vivências das crianças junto aos seus familiares e de experiências que tiveram dentro e fora do ambiente escolar.

            Exploramos as literaturas “É o Bicho Futebol Clube” e “Eu Vou Ser Um Jogador de Futebol”, com dramatização e criação de histórias em HQ pelas crianças. Já na matemática, as crianças tiveram a possibilidade de jogar jogo de botão como forma lúdica de jogar futebol de mesa, realizaram atividades envolvendo histórias matemáticas que permeavam o assunto em questão, bem como aprenderam na prática do esporte na quadra da escola e também no laboratório de informática as regras do jogo e as diferentes estratégias de jogo que poderiam ser feitas ao longo das competições que fazíamos, tanto nos jogos de computador, como também na quadra da escola e no jogo de botão.

            A turma também aprendeu sobre o jogo em equipe, o controle das emoções, a cooperação entre o seu time e o time adversário. Também tivemos momentos de vivências em que pudemos refletir sobre alguns valores, como: confiança, amizade, respeito, dedicação, união e outros; muito importantes não só para um jogador amador ou profissional, mas para qualquer cidadão de bem. Saber trabalhar em si as frustrações e também saber ganhar e perder foram questões que as crianças aprenderam ao longo dos estudos; em que muitas situações durante os jogos fizeram-nas perceber que determinadas atitudes eram inadequadas e desnecessárias.

            Em ciências a turma optou por aprender como é feita a bola de futebol e quais materiais são usados para confeccioná-la. Além disso, buscamos conhecer mais sobre a evolução na confecção das bolas através de pesquisa em revistas antigas, vídeos, materiais concretos e internet; o que fez com que a turma se encantasse com as diferentes formas de buscar respostas para suas indagações.

            Em artes as crianças confeccionaram uma chuteira de sulfite colorida e, com cadarço de verdade, aprenderam a “amarrar” sua chuteira, pois muitos ainda não sabiam amarrar seu calçado.

Já em geografia, as crianças realizaram atividades de orientação no plano, com mapas para localização de estádios e times em diversos lugares; descrição de como chegar a um estádio por um torcedor no passo a passo; realizaram estudo em diferentes mapas para conhecer lugares onde se localizam times famosos, onde há estádios pelo mundo todo, considerando não somente a localização, mas também a distância, os pontos cardeais, a orientação a partir de pontos de referência.

            Recebemos em nossa sala a visita de uma jogadora de futsal profissional, que conversou com as crianças e contou um pouco sobre como é ser jogadora e o que faz profissionalmente. Falou sobre as entrevistas, contratos, viagens, vida financeira, saber jogar e trabalhar em equipe. Mostrou ao longo de sua fala que necessita um pouco de cada disciplina estudada na escola. Ao final da conversa entregamos a ela um troféu do nosso projeto..

            Por fim, realizamos um mini campeonato de futebol na quadra da escola entre as crianças da turma. Ao final, as crianças receberam um troféu alusivo ao projeto e todo o estudo que foi escrito em bolas, montado, uma a uma, em forma de bloco, para levar para casa.

Desta forma, vimos que era possível aprender de maneira lúdica e divertida sobre determinados assuntos relacionados ao nosso cotidiano, tão presente e tão importante para a vida humana, desde a mais tenra idade, potencializando nossos saberes e fortalecendo o princípio da cultura reflexiva por meio de pequenos projetos.

Resultados e Discussão: A constatação de que as crianças, quando estão envolvidas em um estudo voltado para uma prática de sala que contemple os conteúdos pertinentes ao ano em que estão e à realidade fora do âmbito de sala vivenciada por elas, sua aprendizagem passa a se tornar um hábito diário, em que sua prática educativa se tornará parte das mais variadas ações realizadas ao longo de seu cotidiano infantil, como o ato de praticar um esporte e estudar junto a ele de forma lúdica e divertida. Incorporar o que vivencia possibilita apropriar-se de todo um conhecimento que será compartilhado com o outro a partir de suas próprias ações, para além de outras formas de linguagens que a criança estabelece junto a seus pares.

O trabalho em sala nos mostrou que a ludicidade necessita, no caso dos Anos Iniciais, permear este fazer pedagógico, instigando o imaginário da criança para que a criatividade amplie para horizontes mais longos.

A aprendizagem com a música, artes e literatura faz com que o envolvimento infantil aconteça de forma prazerosa e lúdica; em que a criança se utiliza o brincar para aprender mais e melhor sobre determinados assuntos tão importantes para a vida dos seres vivos em nosso planeta. Aliar diferentes linguagens, com diversos recursos e técnicas faz com que o professor busque qualificar sua prática e também aprenda mais sobre os mais variados assuntos para, então poder estudar com seus alunos em sala.

Conclusões: Todo trabalho, quando realizado em conjunto, em prol de um objetivo único e com vistas a um resultado voltado para um crescimento mútuo, no caso da criança, em pleno desenvolvimento, possibilita visualizar no educador a satisfação de ver em torno da mesma seu crescimento enquanto sujeito que aprende e que pratica o que ela teve como experiência dentro de sala de aula.

A pretensão de que a prática das vivências aconteça realmente se faz visível e passa a fazer parte do cotidiano infantil com mais naturalidade, em que o envolvimento familiar complementa esse processo do aprender. Aprender com ludicidade, pesquisa, diálogo e participação faz da criança protagonista, um sujeito de valores e possibilita realçar sua potencialidade e criatividade.

Naiana Ortiz Boeno

Professora da rede pública de ensino.

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