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Suicídio: Precisamos falar sobre

Por, Fabiane Schott, Alice Dias Pasche e Júlia Vidal | Psicólogas Clínicas

Matéria Publicada em: 17/07/2018

Psicólogas; Fabiana, Alice e Júlia

            Psicólogas; Fabiana, Alice e Júlia

Com frequência o suicídio está presente na sociedade, e os índices elevados constantemente apresentam casos envolvendo adolescentes que atentam contra a própria vida. O Rio Grande do Sul é o estado que apresenta os maiores índices de suicídio do país, com oito a dez mortes por cem mil habitantes, essa taxa é duas vezes superior à média nacional (BRASIL, 2009). Os motivos apontados estariam ligados a etnia, a cultura e questões relacionadas ao clima seriam fatores coadjuvantes ao ato. O Suicídio é um tema extremamente delicado e, por diversos motivos, tido como um tabu social, resultando em dificuldades para falar sobre o problema, e consequentemente implicando na falta de prevenção.

Conforme dados do Mapa da Violência 2017, a partir de dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, o panorama especificamente no nosso país, tem se tornado mais grave, cerca  de 11 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil.  Entre 2011 e 2016, 62.804 pessoas tiraram suas próprias vidas no país, 79% delas são homens e 21% são mulheres. A taxa de mortalidade por suicídio entre os homens foi quatro vezes maior que a das mulheres, entre 2011 e 2015. São 8,7 suicídios de homens e 2,4 de mulheres por 100 mil habitantes, sendo expressivo também a ocorrência de suicídio na população entre 15-29 anos, além de alta incidência entre idosos com mais de 70 anos, e também entre a população indígena.

O ato suicida em 97% dos casos, segundo vários levantamentos internacionais é um marcador de sofrimento psíquico ou de transtornos psiquiátricos (BOTEGA, 2010). Por sofrimento psíquico entende-se um determinado aspecto de origem vivencial, algo relativo à existência, que, todos em algum momento da vida vão experenciar. Já os transtornos psiquiátricos se referem a padrões comportamentais ou mentais causadores de sofrimento, anormalidade ou incapacidade funcional no cotidiano. É comum haver a relação entre suicídio e depressão, justamente pelos sintomas apresentados, como desesperança, tristeza e desânimo, no entanto não deve generalizar-se, uma vez que nem todas as pessoas com depressão cometem suicídio, as causas podem ser as mais variadas. Há grande complexidade para compreender o comportamento suicida.  Existem fatores emocionais, psiquiátricos, religiosos e socioculturais envolvidos. São um conjunto de fatores que ajudam a compreender a situação de vida, o sofrimento que essa pessoa carrega e, a busca pela morte.

Tendo em vista que o suicídio é multifatorial, também é importante saber que há variados tipos, desde aqueles que foram planejados até os impulsivos. Como nos casos dos idosos, eles costumam planejar mais e os adolescentes são mais impulsivos. Geralmente há sinais, que podem ser verbais ou comportamentais, porém muitas vezes esses sinais não são claros ou só fazem sentido depois do ato. Por isso, é importante desconstruir o tabu em torno do assunto falando sobre ele adequadamente. Para a psicóloga Karen Scavacini, coordenadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, não falar sobre suicídio pode ter um efeito tão devastador quanto falar de maneira inadequada. "Quanto maior o silêncio e segredo em torno de um assunto tabu, pior para quem lida com ele.” Portanto, falar sobre o assunto de maneia apropriada, de modo que se possa reconhecer os fatores de riscos e a presença de sinais.

Quando percebe-se a presença dos sinais ou na desconfiança de ideação suicida, como por exemplo, em casos de tentativas, que representam um fator potencial para consumação do suicídio, providencias devem ser tomadas, como orientação familiar e escolar, tratamento psicológico e psiquiátrico são algumas das possibilidades. Entende-se que o suicídio é um ato para dar fim a um sofrimento, um pedido de socorro não ouvido a tempo, e não só pela família, por muitos. Conhecer quais são os fatores de proteção auxilia a entender e prevenir o suicídio, dentro os principais destaca-se: autoestima elevada; bom suporte familiar; laços sociais bem estabelecidos com família e amigos; religiosidade (independente da afiliação religiosa); ausência de doença mental; estar empregado; ter crianças em casa; senso de responsabilidade com a família; gravidez desejada e planejada; capacidade de adaptação positiva; capacidade de resolução de problemas e relação terapêutica positiva, além de acesso a serviços e cuidados de saúde mental.

O suicídio é um assunto de saúde pública, no entanto ainda não há políticas eficazes e efetivas de prevenção. Dessa forma, torna-se de fundamental importância construir novas medidas prevenção e desconstruir o estigma histórico-cultural que envolve o assunto suicídio. Desde 2015, a Campanha de Conscientização sobre a Prevenção do Suicídio busca divulgar informações a população brasileira quanto a realidade e a prevenção do suicídio. Esta ocorre no mês de setembro, sendo identificada com a cor amarela considerada de alerta, chamada “Setembro Amarelo”.

É importante que a prevenção do suicídio aconteça durante todo ano com informações pertinentes sobre o assunto. Onde procurar ajuda? Em locais públicos ou particulares de saúde, como Unidades Básicas de Saúde (UBS) com a equipe multiprofissional e consultórios com profissionais da saúde mental que prestem atendimento psicológico e/ou psiquiátrico; nos familiares, amigos e/ou pessoas próximas; no Centro de Valorização da Vida – CVV, através do telefone 188, cujo possui atendimento 24 horas por dia. Não deixe de falar!

Fabiane Schott, Alice Dias Pasche e Júlia Vidal

Psicólogas Clínicas.

Referências:

BOTEGA, N. J.; SILVEIRA, I. U.; MAURO, M. L. F. Telefonemas na Crise: Percursos e Desafios na Prevenção do Suicídio. Rio de Janeiro: Editora ABP, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção do suicídio: manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Organização Pan-Americana da Saúde. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2006.

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