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A eleição no bosque - metáfora da política brasileira

Por, Teobaldo Branco

Matéria Publicada em: 25/07/2018

 Uma metáfora da política brasileira

Numa tardinha ensolarada de primavera surgiu o papagaio anunciando e ao mesmo tempo convocando todos os animais do bosque para uma assembleia geral, ao clarear o dia, com data marcada.

No amanhecer do dia estabelecido, já se ouvia o barulho da bicharada.

O lagarto saiu devagarinho da toca para saber do que se tratava. A caturrita, a gralha, o tucano, o sabiá e o bentevi dialogavam em voz alta, propondo aliança. O tico-tico, a perdiz, o inhambu, o beija-flor e o rato, a turma dos pequenos, formavam piquetes aguardando a pauta da assembleia. O macaco e o burro estavam ausentes. O cachorro, o gato, o preá vinham aproximando-se. Visto sua aproximação o galo gritou:

- Está na hora! Está na hora!

As abelhas, marimbondos e outros insetos voadores observavam de longe irritados pela baderna que reinava no bosque, alguns fazendo protesto, outros discutindo ideologia.
Não tardou para soar o alto-falante:

- Aten...ção, atenção...ão...ão (voz fanhosa). O microfone emitiu som falho, voz embargada e grave. Mas alguém técnico correu arrumar os fios. Apresentou-se o esquilo e a capivara com ajuda da coruja, houve solução.

A lagartixa próxima do sapo resmungou: - Silêncio!

O touro berrou ao lado do cavalo: - Silêncio!

O Tamanduá murmurou no ouvido do tatu e discretamente retirou-se da reunião.

Os microfones anunciaram o início da assembleia. Todos procuravam espiar quem presidia a reunião.

O papagaio convocou para fazer parte da mesa: O cavalo por ser reservado e de respeito. Também, o cachorro para evitar resmungos de subversão e protestos. A gralha para evitar a algazarra. O rato porque conhece tudo. O lagarto por ser zeloso. O tico-tico para defender a plebe. A jaguatirica sendo representante do poder, não pode ficar fora.
Depois da mesa completa anunciou-se a pauta de reunião:

- Eleição para presidente.

- Inscrição e eleição em 90 dias.

- Democracia; direito assegurado a todos.

Depois da assembleia, o bosque completou-se com uma festa. Só, se falava em eleição. A festa da democracia.

Depois de alguns dias, o bosque amanheceu coberto de cartazes dos candidatos, alguns com legendas, outros com fotos, indicando seus projetos de campanha.

A raposa disse: - Dr. Macaco! Vamos fazer coligação. E acrescentou: - O leão, mesmo ausente do domicílio eleitoral, vem comandar a política local, assim temos força de ganhar.

- Dona raposa! Concordo desde que, eu seja o tesoureiro da campanha, cujo slogan deva ser: "reino forte, moeda estável, representando um governo liberal". Disse o macaco.

Assim formou-se a primeira chapa de candidatos para concorrer a presidência do bosque.

Outra corrente política se articulando.

O cachorro com uma postura radical discursava:

- Pretendo candidatar-me, pois conheço todos os rincões do bosque. Fizemos coligação com o papagaio, com apoio de várias espécies de animais. Aqui nesta reunião prometemos, ao amigo lagarto, a corruíra, o beija flor, ao coelho e a todos os presentes, "um governo disciplinado e prudente, com uma plataforma que permite a liberdade e participação", um governo de esquerda, já pensando em CPI.

Do outro lado do bosque, a águia em conluio com o gato e a cobra, diziam numa reunião:

- Temos força de dominar e ganhar a eleição, senhor gato. Peço confirmar diante deste povo, que aceita ser vice.

O gato observou, pensou e disse: - Aceito, mas prefiro atuar no orçamento.
A águia respondeu: - O gato é discreto com fama de durão controlando o dinheiro, trás segurança, com propostas de um governo conservador.

Havia muitos encontros e reuniões numa ampla discussão sobre a organização de candidaturas para concorrer a eleição à presidência do bosque.

Os anarquistas acusavam a bandidagem e candidatos opositores. Os nazistas preparavam truques em conclave para digladiar um e outro candidato rival.

Os animais do bosque estavam vivendo uma revolução.

O galo independente discursava dizendo:

- Precisamos de segurança à população fraca e pacata; tais como o coelho, o pato, o preá, o cisne e outros animais desta terra. Ninguém pode confiar em ninguém. Há muita violência em todos os lugares do bosque. Temos medo de buscar alimentos. Os corruptos comandam o mundo do crime.

O lagarto interrompeu falando calmo:

- Existem boatos de golpe comprometendo a eleição.

O preá chiou dizendo: - O Ibope deu vantagem para Águia.

Mas, o galo respondeu na hora: - As pesquisas são tendenciosas. Estão mexendo com a candidatura da raposa; há denúncias contra o macaco devasso.

- O gato eleito será a decadência desse país. Gritou o rato, com aval da corruíra. Em campanha, os cabos eleitorais prometiam libertar os prisioneiros. Eles davam leite, frutas e milho verde aos excluídos. Formavam passeatas pelo ar e por terra. As caturritas e o corvo comandavam seu discurso farolento, defendendo sua plataforma anarquista. 

Os javalis, a zebra, o jacaré, o porco, os cabritos e o boi por terra, em grupo formavam piquetes, protestando contra os comunistas. 

O João de barro, o bentevi e a garça, lá do alto observavam a mídia e os rumos da campanha. A saracura e o quero-quero fofoqueiro denunciavam tempestades e escândalos nos bairros do bosque.

O canário, o chupim, a pomba, o pardal em bandos, sob a liderança da coruja cantavam sem medo, como independentes, sem partido, dia e noite alertando a burrice e ganância dos ambiciosos pelo poder.

O dia da eleição com data marcada foi realizada, somente depois de cumprido o calendário eleitoral. Para isto foi organizado um ministério eleitoral responsável pela realização do pleito. 

Os sete responsáveis foram o coelho, o gavião, o veado, a girafa, a pomba, o elefante e o tigre. 

O tigre foi nomeado juiz, responsável para presidir e anunciar os resultados finais e diplomar os eleitos, confirmando-se assim, a política da democracia no continente do bosque.

Teobaldo Branco

Aposentado

 

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