IJUI NEWS - Os olhos das crianças
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Os olhos das crianças

Por, Prof. Dra. Elaine dos Santos.

Matéria Publicada em: 03/08/2018

Olhe para os olhos das crianças... há tanta vida, tanta luz, tanta esperança nos olhos das crianças!

Durante a semana, enquanto se desenvolvia a ação que leva brincadeiras e alimento para os pequenos em uma das vilas da minha cidade, observava-os. Alguns costumam chamar-me para mostrarem os seus desenhos, outros querem conversar. Havia uma menina, aparenta forte ascendência indígena e os olhos parecem duas “bolitas pretas”, ela me olhava com uma estranha curiosidade, mas havia um brilho tão intenso naquele olhar que a tudo e a todos acompanhava que me detive neles. Muito, muito, muito brilhantes, eles refletiam a luz do ambiente e uma alma que me pareceu sedenta de vida, procurei conversar, as palavras saíram débeis, ela queria ver o mundo em torno de si, queria ver os companheiros de jornada, os adultos que se acercavam, queria perscrutar cada ser humano que se lhe afigurava um “objeto” a descobrir. A menina percebia a vida à sua volta, foi o que concluí.

Dela, passei a observar (e não encontro verbo melhor para descrever a minha ação) os demais, eles brincavam, eles corriam, eles desenhavam, eles alimentaram-se, eles tomaram suco eles conversaram, mas, em cada gesto e em cada palavra, havia descobertas e interações, havia vidas em movimento. Tenho dito com reiterada frequência que, a exemplo de Brás Cubas, o personagem de Machado de Assis, não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da miséria humana, mas que, por outro lado, o meu pai e a minha mãe me concederam um mundo bem melhor do que esse em que vivo, havia esperança no mundo em que crescemos. Hoje em dia, diante de tanta violência física – e outras que tais –, diante de tanta corrupção, diante de tanta hipocrisia, por vezes, nos perguntamos: que mundo é esse? Olhando para as crianças da vila, indaguei-me, mais uma vez: que mundo se está deixando para os que virão depois de nós?

De um modo geral, há uma sanha furiosa em que as pessoas atacam-se, sem argumentação que sustente as suas ideias – é o mundo do “achismo”, e ofendem, agridem quem pensa diferente delas, o livre arbítrio, a liberdade de expressão passou a ser impensável, inaceitável para alguns indivíduos de temperamento totalitário, sectário, intolerante. Eles – apesar de nada saberem sobre História, sobre organização administrativo-política do país, sobre os meandros do poder constituído e das suas inter-relações com o capital, para ficar em exemplos básicos – agem enfurecidamente contra quem “ousa” questionar as “verdades” que professam. As indagações são: O que é “verdade” e quem, no decurso dos dias que correm, pode ter certeza de ser detentor de uma verdade? Quem pode, sem conhecer os acontecimentos que nos configuram como nação, querer opinar sobre o quadro caótico em que se encontra a nossa sociedade? Não seria a hora de nos comprometermos mais como cidadãos, ao invés de sairmos bravateando, gritando, esbravejando? A repetição, aqui, é retórica e, portanto, coerente e objetiva: que mundo se está deixando para os que virão depois de nós? Que pai e que mãe, com mansidão de espírito, poderá mirar os olhos dos seus filhos e confiar que tem feito tudo em prol de um mundo minimamente melhor para os seus pequenos, acreditando-se que um mundo minimamente melhor inclua justiça, mas que inclua amor.

Por, Professora Elaine dos Santos.

Doutora em Letras

Brito lateral 2020