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O conhecimento é o grande diferencial

Por, Elaine dos Santos | Professora Doutora em Letras (UFSM)

Matéria Publicada em: 28/10/2019

Sempre que o final do ano aproxima-se e, com ele, as provas dos concursos vestibular, assim como o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), verifica-se uma grande preocupação entre estudantes que postulam uma vaga no ensino superior: a escrita da redação.

Em uma época histórica, a nossa, em que se faz a apologia da ignorância (do latim “ingnorantia” e “ignorare”, que significa não saber, formada pelo prefixo “IN-“ que equivale a “NÃO” e por “GNARUS”, aquele que domina um assunto, logo ignorância equivale ao que não conhece o assunto, desconhece sobre o que opina), escrever sobre um tema qualquer tornou-se uma tarefa difícil, afinal todos manuseiam com facilidade o seu “achômetro”, mas construir uma tese, apresentar argumentos que a sustentem, fazendo progredir as ideias dentro do texto, valendo-se da língua portuguesa padrão, adotando mecanismos coesivos e ainda trazendo exemplos do mundo fático ou que demonstrem leitura e conhecimento sobre o assunto não é para qualquer um.

Uma das máximas que todo bom “escrevinhador” conhece: escreve bem quem lê bem e bastante textos com boa qualidade, em língua portuguesa culta. O exercício da leitura é fundamental para uma escrita fluída, que “prenda” a atenção do leitor, seja coerente, coesa e tenha “fundamento”, isto é, expresse o conhecimento, de fato, adquirido.

O INEP, órgão federal responsável pelas provas do ENEM, divulgou, dias atrás, comentários técnicos sobre as redações que, em 2018, alcançaram nota máxima na prova. Um dos aspectos que chama a atenção é a remissão dos candidatos a autores como Bauman, Hobbes, Kant, Adorno, Stuart Hall. Somente um leitor crítico, que tenha uma considerável experiência de leitura, consegue citar o pensamento desses estudiosos e ainda relacioná-lo com o tema proposto na redação. Portanto, não existem dicas para uma prova de redação que possam ser ofertadas um dia antes da prova, existe uma preparação consciente, antecipada, que se faz como decorrência de uma alta relação “bunda sentada na cadeira lendo”.

A minha professora de língua portuguesa do ensino médio costumava dizer que o sujeito que não sabe usar a língua materna (português) adequadamente vale-se do recurso mais pobre que ela oferece: “e então”, ele diz. Nas observações sobre as provas do ENEM, os analistas assinalaram o uso qualificado dos recursos coesivos: “assim sendo”, “portanto”, “embora”, “além disso”, “dessa forma”, “acerca disso”, “por conseguinte” etc. Somente o leitor, usuário recorrente da língua padrão, consegue estabelecer as relações de nexo para fazer uso desses mecanismos de coesão de maneira adequada. Não se trata, pois, de ser melhor que A ou B, mas ter objetivos postos e a obstinação para alcançá-los: ser qualificado naquilo que se faz. Ainda

que o estudante que presta concursos que exigem redação não se torne jornalista, professor, advogado ou exerça qualquer outra profissão em que a linguagem seja instrumento básico da profissão; falar, escrever corretamente e expressar o pensamento com clareza são diferenciais em uma sociedade que tenta nivelar-se por baixo.

Neste sentido, evoco a palestra de um empresário paulistano que contava as peripécias que passou para aprender a língua inglesa e complementava afirmando que, dez anos atrás, a língua de Shakespeare era o divisor de águas em qualquer carreira profissional, mas que, hoje, escrever com qualidade na língua de Camões e defender argumentos, com propriedade, são atributos que identificam o profissional de sucesso.

Elaine dos Santos |Professora Doutora em Letras (UFSM)

Autora do livro “Entre lágrimas e risos: as representações do melodrama no teatro mambembe”, que conta a história do Teatro Serelepe.

Seiko DDD