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Última flor do Lácio

Por, Elaine dos Santos | Professora Doutora em Letras (UFSM)

Matéria Publicada em: 22/02/2020

O Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa registra cerca de 400 mil palavras, apesar disso, considerando, especialmente, a inserção de novos vocábulos da área de tecnologia, estima-se que, em língua portuguesa, haja cerca de 600 mil palavras à disposição do falante. 

Contudo, o usuário médio apropria-se de aproximadamente 1.000 a 1.500 palavras ao longo de sua vida, restringindo, dessa forma, uma gama infindável de vocábulos que poderiam ajudá-lo a compreender melhor o mundo e expressar suas emoções, seus pensamentos. 

A leitura continua sendo a melhor fórmula, dica, sugestão para superar esta limitação que atinge a maioria dos brasileiros que falam língua portuguesa. Ler não cansa – a menos que a pessoa decida ler ao final do dia, confortavelmente acomodada em sua cama, à espera do sono: com certeza, o sono virá e a leitura será sinônimo de preguiça ou algo equivalente. Uma boa e prazerosa leitura é feita, sim, confortavelmente acomodado numa poltrona, na sua cadeira preferida, no sofá, desde que a pré-disposição inicial não seja dormir. 

Como a maioria das nossas ações (as chamadas lembranças hábitos), ler exige paciência, um exercício repetitivo, certa concentração e, sem dúvida, uma boa dose de determinação pessoal – é um pouco daquela história que o professor Clóvis Barros afirma: É preciso ter brio, se os outros conseguem ler e entender o que está escrito, por que eu, um ser humano saudável, dotado de inteligência, não consigo? 

É-nos, muitas vezes, difícil manter a conversação com quem não tem um maior domínio da língua portuguesa. Lembro que, anos atrás, conversando com uma pessoa, eu disse: “Mas eu não estou discutindo isso”. A pessoa irritou-se: “Mas ninguém tá batendo boca, quem tá brigando aqui?” De imediato, eu entendi que a pessoa em questão só compreendia a palavra discussão como sinônimo de briga, ignorando que discussão pode significar argumentação, debate de ideias, conversa, análise de dado acontecimento, entre outras tantas possibilidades.  

Em tom de galhofa, uma amiga, professora de língua portuguesa, contou-me que, na semana passada, entre amigos, usou a expressão “incontinência fecal” e, claro, não foi entendida. Partiu da explicação mais simples: incontinência fecal é “parente” da incontinência urinária. Todos olharam-na ainda interrogativos: incontinência fecal é pura e simplesmente diarreia, também conhecida como “corredeira”, “piriri”, “desarranjo” etc. e tal. 

Se as pessoas fossem menos refratárias ao conhecimento, à leitura, talvez – e só talvez – os desentendimentos cotidianos, a interpretação equivocada de certas palavras poderiam ser evitados. Haveria mais paciência com o interlocutor, aquele que fala ou escreve, e um esforço maior para compreender o que ele deseja expressar.  

Parafraseando Fernando Pessoa no poema “Mar Portuguez” que afirmava que navegar é preciso, sem dúvida, na navegação diária que empreendemos pela vida, ler é preciso, conhecer é fundamental. 

Professora Elaine dos Santos

Doutora em Letras/UFSM

 

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