(Thaís Kinalski | Professora)
As crianças precisam, desde pequenas, serem instigadas a observar fenômenos, relatar acontecimentos, formular hipóteses, prever resultados para experimentos, conhecer diferentes contextos históricos e sociais, tentar localizá-los no espaço e no tempo. Podem também trocar ideias e informações, debate-las, confrontá-las, distingui-las e representá-las, aprendendo, aos poucos, como se produz um conhecimento novo ou porque as ideias mudam ou permanecem.
A metodologia de projetos estimula os alunos à pesquisa, a pensar de modo científico e criativo. Coloca o educando no papel de pesquisador e produtor de novos conhecimentos, proporcionando uma aprendizagem dotada de finalidade e significado. Participando da aula, realizando pesquisas e sendo protagonistas de sua aprendizagem, aprendem de forma mais prazerosa e significativa.
De acordo com Rego (2011) Vygotsky procura conceituar a função da escola no processo de desenvolvimento do indivíduo, separando os conhecimentos construídos na experiência individual das crianças - conceitos espontâneos, dos conhecimentos construídos em sala de aula. Entende-se que os conceitos espontâneos são vivenciados pela criança, já os conceitos científicos não se relacionam com a ação imediata da criança, são conhecimentos adquiridos no contexto escolar, com diferentes graus de generalizações e complexidades.
Na perspectiva vygotskyana, embora os conceitos não sejam assimilados prontos, o ensino escolar desempenha um papel importante na formação dos conceitos de um modo geral e dos científicos em particular. A escola propicia às crianças um conhecimento sistemático sobre aspectos que não estão associados ao seu campo de visão ou vivência direta (como no caso dos conceitos espontâneos). Possibilita que o indivíduo tenha acesso ao conhecimento cientifico construído e acumulado pela humanidade. Por envolver operações que exigem consciência e controle deliberado, permite ainda que as crianças se conscientizem dos seus próprios processos mentais (processos metacognitivos) (REGO, 2011, p. 79).
Contrapondo a ideia de Vygotsky com o que é apresentado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) sobre o ensino de ciências naturais percebe-se uma relação direta com o processo de ensino e aprendizagem de forma significativa para os educandos, envolvendo-os em práticas sociais:
Se a intenção é que os alunos se apropriem do conhecimento científico e desenvolvam uma autonomia no pensar e no agir, é importante conceber a relação de ensino e aprendizagem como uma relação entre sujeitos, em que cada um, a seu modo e com determinado papel, está envolvido na construção de uma compreensão dos fenômenos naturais e suas transformações, na formação de atitudes e valores humanos. Dizer que o aluno é sujeito de sua aprendizagem significa afirmar que é dele o movimento de ressignificar o mundo, isto é, de construir explicações norteadas pelo conhecimento científico. (BRASIL, 1997, p. 32-33).
Como afirma Hernández (1998), os projetos propiciam o desenvolvimento de habilidades para a resolução de problemas, a articulação de conhecimentos adquiridos, o desenvolvimento da criatividade, da autonomia e da colaboração. Durante esse estudo, pôde-se refletir que o desenvolvimento de projetos de trabalho propicia a iniciação científica, pois, apresenta como pressuposto a formulação de uma questão problemática. Quer dizer, os projetos de trabalhos apresentam como fio condutor da pesquisa, um problema a ser resolvido e uma das características que apresenta o método científico é justamente uma questão a ser resolvida.
A educação não deve se limitar a formar alunos para dominar determinados conteúdos, mas sim que saibam pensar, refletir, trabalhar e cooperar uns com os outros, propor soluções sobre problemas e questões atuais. A escola deve favorecer a formação de seres críticos e participativos, conscientes de seu papel nas mudanças sociais. Saber pesquisar e selecionar as informações para, a partir delas e da experiência, construir o conhecimento, tornou-se uma real necessidade da atual sociedade. Bachelard (1996), afirma que toda cultura científica deve começar por uma catarse intelectual e afetiva e que devemos duvidar, questionar tudo que nos chega e o que temos dentro como saber. Apresenta o “espírito científico” como uma característica do ser que esteja apto a construir o conhecimento científico.
O projeto favorece o conhecimento prévio e o aprofundamento gradativo dos conteúdos. Os alunos ficam bem envolvidos durante o desenvolvimento do projeto, a cada etapa mostram-se curiosos e observadores. A diversidade de recursos possibilita que aos alunos fazer considerações a respeito. Eles têm a oportunidade de esclarecer dúvidas, favorecendo a formação de cidadãos mais conscientes e atuantes, desenvolvidos na sua forma de pensar, raciocinar, descobrir e resolver problemas, de forma envolvente e satisfatória.
Thaís Kinalski
Professora da Rede Municipal de Educação de Ijuí/RS - Licenciada em Pedagogia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí.
REFERÊNCIAS
BACHELARD, Gaston. A noção de obstáculo epistemológico. In: ____ . A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais. Brasília, 1997.
HERNANDEZ, Fernando, VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artmed, 1998.
REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Rio de Janeiro: vozes, 2011.
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