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Crise Ambiental: um enfoque em perspectiva para a Educação Infantil

Por, Angélica Endl e Elaine G. Müller

Matéria Publicada em: 16/05/2017

RESUMO: Em um contexto marcado pela constante degradação ambiental faz-se necessária a configuração de delineamentos e sentidos sobre a Educação Ambiental.

Assim, sob um enfoque educacional, o presente artigo tem como objetivo elencar a importância e a significação do tema relacionado aos aspectos ambientais e suas fundamentais importâncias frente ao desenvolvimento formativo cultural, social e valorativo que envolve a natureza e o homem no intuito de um bem viver desde a infância. Embasado teoricamente em Antunes (2003), PCNs (1997), Carvalho e Steil (2009), Gadotti (2005), Jacobi (2003), Legan (2007), e Santomauro (2012), o presente artigo destaca uma perspectiva teórica e, consequentemente, prática sobre a formação dos sujeitos para o exercício da cidadania responsável e integrado ao cuidado com a vida.

Palavras-chave: Educação ambiental. Cidadania. Sujeito ecológico.

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 Licenciatura em Letras Português e respectivas literaturas, Unijuí/Ijuí/RS. Pós-graduada Lato Senso em Educação Infantil- Universide do Tuiutí do Paraná, em convênio com a Uníntese deSanto Ângelo/RS. Professora em Escola da Rede Municipal Infantil de Ijuí.

E-mail: angelica.endl@yahoo.com.br

Licenciatura em Pedagogia Educação Infantil e Anos Iniciais, Unijuí, Ijuí/RS. Professora em Escola da Rede Municipal Infantil de Ijuí.

E-mail: elainegmuller@hotmail.com

ABSTRACT: In a context marked by constant environmental degradation is necessary configuration designs and meanings on Environmental Education. Thus, under an educational approach, this article aims to list the importance and significance of the topic related to the environmental aspects and their fundamental importance to development front formative cultural, social and evaluative involving nature and man in order to live a good long childhood. Theoretically grounded in Antunes (2003), PCN (1997), Carvalho and Steil (2009), Gadotti (2005), Jacobi (2003), Legan (2007) and Santomauro (2012), this article outlines a theoretical perspective and consequently , practice on the training of individuals to exercise responsible citizenship and integrated into the life care.

Key words: Environmental Education. Citizenship. Ecological self.

INTRODUÇÃO

Vista do crepúsculo, no final do século

Eduardo Galeano

Está envenenada a terra que nos enterra ou desterra.

Já não há ar, só desar.

Já não há chuva, só chuva ácida.

Já não há parques, só parkings.

Já não há sociedades, só sociedades anônimas.

Empresas em lugar de nações.

Consumidores em lugar de cidadãos.

Aglomerações em lugar de cidades.

Não há pessoas, só públicos.

Não há realidades, só publicidades.

Não há visões, só televisões.

Para elogiar uma flor, diz- se:

“Parece de plástico”.

O início do século 21 desafia a humanidade a refletir sobre sua convivência relacional com o meio ambiente, pois está havendo uma relação exploratória, em que a poluição da água, ar, terra, enfim, inclusive da forma de pensar e agir, está começando a depredar os bens naturais existentes no mundo.

De que nos adianta sermos considerados seres racionais e supostamente “inteligentes” se não sabemos aproveitar e cuidar da natureza sem ser de forma abrangente e depredadora? Desse modo, o consumismo desenfreado e capitalista está pondo em risco toda a existência das espécies, recursos naturais (que por sua vez, muitos não são renováveis), deterioração da camada de ozônio, desequilíbrio da natureza com o aquecimento global, entre tantos outros fatos sérios que requerem nossa atenção e atitudes práticas para um caminhar educativo consciente da responsabilidade que deve ser mantida quanto ao equilíbrio harmônico com o cuidado à natureza em prol da sobrevivência contínua a cada geração.

O excesso de “racionalidade” desestruturou diversos valores humanos com relação ao ambiente e à relação integrada entre homem e natureza. Ao reclamar da poluição, dos lixos, do esgotamento dos recursos naturais, estamos engatinhando no sentido de criar estratégias teórico-práticas para o desenvolvimento de uma educação ecológica. Assim, a partir do momento em que se tem uma consciência e noção de nosso ser e estar no mundo, inicia-se um agir natural em nossos atos diários quanto ao cuidado e reestabelecimento dos bens que usufruímos.

Nesse contexto, sabe-se que atualmente muitas crises mundiais estão instauradas, e assim como a econômica, há uma crise ainda maior, que é a ambiental. Muito se comenta a respeito, propostas são pensadas e repensadas a fim de contribuir para a amenização e, quem sabe, “solução” para esse problema. Este deve ser visto e tido como um problema não apenas mundial, mas de cada um de nós, seres humanos, pois somos responsáveis pelas nossas atitudes frente a cada agir, mesmo as mais singelas, mas que podem contribuir para os primeiros passos da luta pela preservação ambiental, de modo que os recursos naturais não se tornem escassos às gerações futuras, permitindo possibilidades de vida terrestre com sustentabilidade.

A crise ambiental é um assunto polêmico e preocupante, mas necessita ser levado a sério. Nesse sentido, a divulgação em maior escala de informações pode ser pressuposto fundamental para que a população adquira maior conhecimento e formule uma opinião a respeito, conscientizando-se de modo que suas práticas sejam diferentes. Discorrer conversação é fácil, mas sabe-se que nem sempre teoria e prática são aliadas, pois muitos de nossos governantes ressaltam o assunto, porém, devido aos interesses capitalistas, mascaram estar preocupados, bendizendo que muitas atitudes já estão sendo tomadas, a fim de mais uma vez perpassar à população uma falsa ideologia de “bons-samaritanos”. Sabe-se, no entanto, que algumas atitudes já começam a ser praticadas, mesmo sendo ainda necessário dar muitos passos após esse engatinhar de práticas sociais ecológicas.

O importante é sabermos que independente dos governos, nós, enquanto cidadãos mundiais, críticos e conscientes, temos o dever de cuidar do que é nosso e de todos ao mesmo tempo, pois somos uma família social interligada aos bens que a natureza nos oferece. Por isso o tema: “crise ambiental” é de fundamental importância e interesse, pois se cada um começar a fazer sua parte, a situação pode ser contornada, enquanto ainda há tempo. Assim, acredita-se numa perspectiva de melhora partindo-se da educação e, em especial, o educar na Educação Infantil, de modo que desde pequena a criança possa adquirir conhecimentos e construir atitudes de um adulto cidadão consciente de seus atos e responsabilidades para com a preservação ambiental.

Nesse sentido, o presente artigo busca delinear noções importantes à educação ambiental na Educação Infantil, partindo da formação dos indivíduos desde a infância, com o intuito de implantar o gosto e o “olhar” para a natureza com o cuidado e preservação que ela e nós merecemos.

DELINEAMENTOS TEÓRICOS

“Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos.” (PITÁGORAS)

Pensar a prática de ensino-aprendizagem da educação remete refletir também, e em especial, a prática educacional da Educação Infantil, pois é desde pequeno que se constitui a personalidade e a formação de valores, de modo que tal importância e abrangência educativa repercutem para a vida adulta.

Ser professor exige comprometimento com a formação e a realidade social de nossos educandos. Assim, a mediação, o questionamento, a pesquisa, a reflexão e as possíveis atuações práticas são base para a busca de melhores condições de ensino. Nesse sentido, é necessário que o profissional da educação crie um envolvimento criativo, crítico e responsável de forma comprometedora com a construção dos conhecimentos significativos de seus alunos a fim de que todos possam articular a relação teoria e prática às respectivas ações educacionais.

Nesse contexto, frente às reflexões das práticas de ensino, Antunes (2003, p. 36-37) compreende a educação escolar como: “um processo social, com nítida e incontestável função política, com desdobramentos sérios e decisivos para o desenvolvimento global das pessoas e da sociedade”.

Nessa perspectiva inclui-se o profissional da educação, cujo trabalho deve repercutir respeito quanto à sua importância social e ao seu ofício de ensinar, pois ele, além de toda a responsabilidade com a educação, necessita ter a consciência de seu papel formador e mediador a partir de sua postura e determinação quanto ao seu trabalho, a fim de contribuir na formação dos conhecimentos dos sujeitos aprendizes.

É necessário, portanto, que o perfil do educador seja compatível com o contexto real social onde atua, a fim de que suas formações contribuam para uma educação humana interligada ao bem comum. Ou seja, temos uma crise ambiental instaurada em nosso mundo, ou seria uma crise da civilização para com sua consciência quanto ao seu papel cidadão? Cabe, portanto, compreender as raízes de que a humanidade proveio, pois no decorrer dos anos e com o desenvolvimento das gerações, muitas ideias, conceitos e atitudes a respeito da cultura e seus respectivos valores foram se perdendo, correspondendo à valorização dos bens naturais, levando o homem a se tornar um utilitarista com a visão consumista de que a natureza está aí para ser explorada.

No entanto, muitos esquecem ou nem mesmo passam a saber que a maioria dos recursos naturais não são renováveis, e que se essa busca desenfreada pelo consumismo explorador continuar, chegará o tempo em que toda a humanidade estará ameaçada devido à falta desses recursos  necessários à vida no planeta. Assim, fazemos parte de um ciclo de vida em que a cadeia de relações estabelecidas necessita funcionar de acordo com as leis da natureza para que o equilíbrio possa prevalecer e não se romper.

A crise ambiental não deve resultar da busca pelo chamado “crescimento desenfreado”, pois a falta de limites faz o homem se tornar insensível, não se importando em adquirir uma consciência que evite esgotar os recursos naturais do planeta.

A partir desses pressupostos considera-se importante o papel formador do profissional da educação, pois se acredita que por intermédio de seu trabalho, questões como essas podem começar a ser melhoradas, visando o convívio de todo um sistema mundial.

Diante desses enfoques, Jacobi (2003, p. 197) destaca que: “quando nos referimos à educação ambiental, situamo-na em contexto mais amplo, o da educação para a cidadania, configurando-a como elemento determinante para a consolidação de sujeitos cidadãos”.

Ou seja, a melhor maneira de começarmos a contribuir para a formação dos seres humanos é via educação, que exige profissionais com formação capacitada a desenvolver a tarefa mediadora de transformação.

Nesse sentido, o papel dos professores(as) é essencial para impulsionar as transformações de uma educação que assume um compromisso com a formação de valores de sustentabilidade, como parte de um processo coletivo. (JACOBI, 2003, p. 204).

Assim, segundo Jacobi (2003), temos as considerações de que a educação ambiental, de acordo com suas possibilidades, permite ser um estímulo de reflexão para se repensar as práticas sociais e o papel formador dos professores como mediadores e transmissores de um conhecimento básico e necessário para os alunos, a fim de estes adquiram uma base adequada para a compreensão do meio ambiente global e local, e possam perceber a relação de interdependência entre os problemas e soluções, bem como a responsabilidade de cada um para a construção de uma sociedade planetária mais equitativa e ambientalmente sustentável.

A educação é a base de uma consciência ecológica, assim, todas as etapas escolares podem assumir esse conteúdo como forma de conhecimento que valorize as relações teórico/ práticas da formação dos sujeitos, pois com sensibilidade, aquisição de valores e ética, é possível repercutir questões práticas quanto à conscientização ambiental de uma educação para a sustentabilidade.

Para tanto, encontra-se em Gadotti (2005, p. 16) uma definição do termo sustentabilidade:

Para nós, é mais do que um qualificativo do desenvolvimento. Vai além da preservação dos recursos naturais e da viabilidade de um desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente. Ele implica um equilíbrio do ser humano consigo mesmo e com o planeta, mais ainda, com o universo. A sustentabilidade que defendemos refere-se ao próprio sentido do que somos, de onde viemos e para onde vamos, como seres do sentido e doadores de sentido a tudo que nos cerca.

Ainda em Gadotti (2005, p.19) encontramos:

O desenvolvimento sustentável visto de uma forma crítica, tem um componente educativo formidável: a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação. É aqui que entra em cena a Pedagogia da Terra, a ecopedagogia. Ela é uma pedagogia para a promoção da aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana.

O referido autor destaca também que o tema dominará os debates educativos das próximas décadas, nos levando a questionar o que estudamos na escola, de modo que não deveremos construir uma cultura de degradação, pois é preciso contemplar uma formação de sustentabilidade associada à planetariedade, ou seja, ter a Terra como um novo paradigma.

Em Legan (2007, p. 11) temos:

As crianças são aproximadamente 30% da população do mundo, e em muitos países chegam a somar a metade da população. O envolvimento das crianças de hoje na educação ambiental é fundamental para o sucesso a longo prazo dos esforços para a sustentabilidade. Precisamos lembrar constantemente que nossas crianças herdarão a responsabilidade de cuidar da Terra.

Ou seja, defende-se o princípio de que é na base de nosso sistema de crescimento e formação que devemos cuidar dessas pequenas gerações, a fim de que estas possam também cuidar sustentavelmente do nosso planeta.

Legan (2007) também defende a ideia de que é possível uma ecoalfabetização, a qual é a compreensão básica dos princípios de sustentabilidade com o propósito de reflexões para a vida diária da humanidade. Assim, o autor destaca que a ecoalfabetização suporta seis pontos relevantes a serem considerados na educação dos alunos: a) cuidados com a segurança alimentar; b) água; c) energia e tecnologia; d) comunicação e cultura; e) espécies e ecossistemas; e f) economia local. Tudo isso como forma de abranger e contemplar as necessidades de um ensino educativo prático e impactante de preservação e restauração.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1997) do Meio Ambiente refletem uma preocupação quanto à formulação de conceitos básicos que possibilitem o norteamento e a fundamentação sobre os aspectos referentes ao meio ambiente. Assim, destacam os grandes desafios a serem enfrentados quando se procura direcionar as ações para melhorar as condições de vida no mundo, devendo-se partir de mudanças de atitudes com a interação ambiental, visando a conservação do nosso patrimônio básico.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam ainda a importância da adequação entre aquilo que os alunos veem na teoria e que só são consideradas aprendizagens efetivas quando conseguirem colocá-las em prática, ou seja, não basta “aprender” que o lixo deve ser posto no lixo, se depois o aluno, independente do local ou situação em que está inserido, continua jogando papel no chão. E aí surge o questionamento, conforme os PCNs (1997, p. 169):

Como é possível dentro das condições concretas da escola, contribuir para que os jovens e adolescentes de hoje percebam e entendam as consequências ambientais de suas ações nos locais onde trabalham, jogam bola, enfim, onde vivem?

Conforme os PCNs(1997, p.187) ainda temos:

A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de procedimentos. E esse é o grande desafio para a educação.

Em Carvalho e Steil (2009, p. 87) temos:

[...] o processo civilizador afirmou-se com base em um ideal de domínio do mundo natural por meio de uma pedagogia das etiquetas e das boas maneiras, o advento ecológico quer trazer de volta o mundo natural recalcado em nome de uma ética e estética do viver em harmonia com a natureza.

Tudo isso nos remete a pensar e a identificar um resgate para a manutenção da vida de modo mais conservador, sendo que não é somente na escola que certos princípios devem existir, mas talvez serem difundidos a partir dela e, se pensarmos em conscientização, poderemos destacar certos valores e atitudes também vivenciados em outros grupos sociais e em especial na família. Desse modo poderemos ter um processo civilizador ambiental coletivo e de grande repercussão.

Jacobi (2003, p. 198) destaca:

E como se relaciona educação ambiental com a cidadania? Cidadania tem a ver com a identidade e o pertencimento de uma coletividade. Educação ambiental como formação e exercício de cidadania refere-se a uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens. A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com consciência local e planetária.

Contudo, não é somente no âmbito escolar que se constata essa realidade, mesmo que tenha sido destacado em especial. As questões ambientais comportam diferentes aspectos que envolvem desde questões subjetivas de cada ser, como de abrangência individual, coletiva, social, local e planetária. Nesse sentido, sabe-se que muito já vem sendo discutido a respeito e que ações começam ser praticadas frente a condutas benéficas para o meio ambiente. Fica claro, no entanto, que é dever de cada sujeito conscientizar-se para o agir. Conforme os PCNs (1997, p. 189), “o acesso a novas informações permite repensar a prática. É nesse fazer e refazer que é possível enxergar a riqueza de informações, conhecimentos e situações de aprendizagem”. E assim, segundo Carvalho e Steil (2009, p. 91), é possível pensar desde a perspectiva ecológica de uma educação ambiental da percepção, com o intuito dos seguintes questionamentos:

Em que medida uma educação humanista tem se constituído como uma esfera autônoma da vida não necessariamente vinculada aos modos de engajamento práticos dos grupos humanos no ambiente? Em que medida uma educação ambiental voltada para a educação da percepção propiciaria a instauração de outros modos de habitar e de educar? Como se daria uma possível mudança dos padrões de engajamento dos grupos humanos no mundo dentro da perspectiva de sustentabilidade defendida pela educação ambiental? Como fazeres pedagógicos podem desenvolver modos de habitar paisagens, abrindo clareiras que propiciem novas experiências no mundo?

Para Gadotti (2005, p. 22), “a educação sustentável não se preocupa apenas com a relação saudável com o meio ambiente, mas com o sentido mais profundo do que fazemos com a nossa existência, a partir da vida cotidiana”. O autor ainda questiona como se traduz na educação esse princípio de sustentabilidade, de forma que destaca as seguintes perguntas: “Até que ponto há sentido no que fazemos? Até que ponto nossas ações contribuem para a qualidade de vida dos povos e para a sua felicidade?” (GADOTTI, 2005, p. 21).

Diante dos fatores anteriormente expostos, e mesmo a crise ambiental sendo um tema muito complexo, existem possibilidades para que diferentes maneiras de trabalho pedagógico com a Educação Infantil sejam desenvolvidas. As noções básicas frente aos conteúdos, habilidades e competências que são necessários ser trabalhados com as crianças, visando ao seu desenvolvimento psicológico, social, motor, linguístico, afetivo, enfim, uma série de possibilidades para o seu crescimento e formação, permite o interesse em trabalhar aspectos pertinentes à educação ambiental como possibilidade de conteúdo também para a Educação Infantil. Assim, envolve-se os indivíduos desde a infância até a formação consciente para aprendizagens e atitudes que sejam vivenciadas mediante práticas cotidianas de forma lúdica, que com naturalidade vão sendo instauradas nos conhecimentos desses pequenos e futuros grandes cidadãos. É dessa forma que começaremos a por em prática o que ainda está somente na teoria, de modo a tornarem-se sujeitos ecológicos.

DESCORTINANDO POSSIBILIDADES PRÁTICAS EDUCATIVAS AMBIENTAIS

O termo sustentabilidade vem se tornando cada vez mais popular, e é por isso que deve ser aliado aos estudos e ensinamentos da escola, pois o que ocorre na realidade social é de grande valia para reflexões e aprendizagens para a vida. Santomauro (2012) destaca que tudo está relacionado com a educação, sendo que a sustentabilidade corresponde à relação com as coisas, ou seja, a autora afirma que as ações de cada um repercute na família e, consequentemente, em cadeia, na escola, bairro, cidade, país, enfim, no mundo.

Por isso, faz-se necessário um redimensionamento de valores e atitudes pois, por menor que seja uma ação, como por exemplo, jogar um papel de bala na rua, esta atitude pode repercutir em uma consequência muito maior, exigindo que seja repensada a forma de agir sobre o meio, por mais que os fatos pareçam singelos.

Muitas escolas e instituições já estão sendo inseridas no processo de educação ambiental, e sob esse viés, percebe-se que atitudes de mobilização, colaboração, melhoramentos, cuidados, preservação, conscientização, divulgação e respeito com o meio ambiente estão permeando passos significativos ao bem natural, social e cultural. Nesse sentido, conforme Legan (2007), sabe-se que a maioria das pessoas tem consciência da crise ambiental que está se vivendo no planeta. O autor destaca, porém, que muitas escolas e instituições acham difícil se engajar em iniciativas privadas e públicas a fim de manter a Terra sadia. No entanto, a autora contempla as possibilidades práticas dos cinco “Rs”: reciclar, reduzir, reparar, reulitizar e repensar.

Dessa forma, e de maneira bem simples, é possível desencadear ações diárias que contribuam para um início colaborativo de situações de dimensão à melhoria da realidade ambiental.

Vivemos em um sistema altamente interdependente. Assim, se mediarmos aprendizagens significativas de amor, cuidado e valorização do meio ambiente às nossas crianças, estas, com certeza, assimilarão as formas práticas de atitudes preservativas que podem envolver desde o plantio e cuidado de jardins na escola, ou plantio de mudas de árvores, horta coletiva e reciclável com o uso de pets.

Em outras instâncias, o trabalho a partir de projetos que contemplem a comunidade escolar pode repercutir socialmente devido às amplas divulgações das boas ideias. Basta que o professor use a criatividade e dinamicidade para tal, de modo a realizar palestras com as famílias das crianças, enviar folderes informativos com orientação das formas de coleta seletiva dos resíduos, realizar teatros educativos infantis sobre o tema, reaproveitar materiais alternativos para confecção de móbiles e brinquedos, fazer um ponto de recolhimento de material radioativo (pilhas e baterias de celular), usar calçados velhos para suporte de vaso de flores, usar confecção de fuxicos para camisetas customizadas, buscar a colaboração das famílias com o plantio de árvores em suas residências, bem como construir cartazes com ideias práticas de seu dia-a-dia para os cuidados com o meio ambiente, de modo a ensinar desde cedo atitudes sustentáveis para os filhos.

Ainda, pode-se fazer utilização de pneus para montagem de jardins e brinquedos na escola, separar resíduos alimentares escolares com destinação aos canteiros de hortas e jardins, evitar o uso de materiais como EVA e isopor, visitar locais arborizados com realização de piquenique, observar imagens e/ou visitar in loco mananciais de água, como rios, enfim, uma infinidade de sugestões possíveis de serem desenvolvidas na e a partir da escola de Educação Infantil com o intuito de aproximação e formação da consciência ambiental.

Refletir sobre essas questões a fim de encontrar caminhos para a satisfação de nossas necessidades, mas de maneira ecológica, requer repensar sobre as formas de pensar e agir, o que pode contribuir para o desenvolvimento de uma permacultura, ou seja, a busca de culturas sustentáveis, segundo Legan (2007).

Legan (2007, p. 12) ainda salienta: “A reorientação da educação envolve ensinamentos ou instruções que não somente aumentam o conhecimento do estudante, mas incentivam o desenvolvimento de habilidades e valores que orientarão e motivarão para estilos de vida sustentáveis”.

Sob esses aspectos, a criança, ao brincar e interagir com o meio e com o outro, vai estipulando vínculos de afetos e construções de saberes de maneira natural e, com isso, aprende e assimila conceitos formativos que carregará para sua vida futura, constituindo-se na base da formação constitutiva do ser humano em seu crescimento relacional com o mundo.

O autor destaca ainda que:

A educação para uma cultura sustentável inclui o aprendizado contínuo, interdisciplinar, com parcerias em um ambiente multicultural e afirmativo. A educação ambiental de hoje deve construir sobre a curiosidade natural das crianças e sobre o entusiasmo pela exploração, com programas que descubram a natureza pela ciência, matemática, leitura, escrita, estudos sociais e arte, tecendo com a investigação prática e encorajando a avaliação crítica dos problemas e das soluções. (LEGAN, 2007, p. 12).

Enfim, envolver habilidades, conhecimentos e valores, não é tarefa fácil, pois os professores têm o papel desencadeador de contribuir para a formação constitutiva dos sujeitos, de modo a impulsionar transformações educativas que assumam o compromisso da formação de sustentabilidade como integrante do processo coletivo social de uma educação do envolvimento responsável e participativo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levar em consideração os aspectos anteriormente expressos tem uma implicação prática, pois convém trabalhar com as crianças de Educação Infantil os assuntos relacionados à educação ambiental. Sabe-se, porém, que isso é possível de uma maneira adaptada a cada faixa etária em que as crianças se encontram. O que cabe ressalvar é que delineamentos teóricos estão sendo feitos e atitudes começam a ser executadas com o propósito da formação da consciência ambiental desde a infância, pois mudar aquilo que já está assimilado torna-se mais difícil em se tratando dos adultos.

Felizmente, muito tem-se falado que as crianças são a esperança do futuro, por isso compete interpretar que em sua inocência de criança, um mundo as espera, ou seja, muitos sonhos são postos em prol de que um dia tudo haverá de ser melhor. Porém, para que isso realmente ocorra, faz-se necessário que cada indivíduo assuma seu papel de cidadão comprometido com a educação e formação de si e do outro para a busca do bem comum. Nesse sentido, considera-se as crianças como herdeiros de nossas riquezas naturais, os futuros responsáveis em saber cuidar, preservar e reflorestar aquilo que ainda resta da natureza. Essa realidade só pode ser mudada a partir das possibilidades de cada um e da sua convivência com os demais.

Enfim, o presente artigo buscou compartilhar alguns tópicos significativos quanto às questões, conceitos, buscas teóricas da educação para se conhecer a importância de uma educação ambiental desde o contexto escolar infantil em sua abrangência com as respectivas famílias. Desse modo, a educação ambiental é uma peça fundamental para o sucesso da sobrevivência do planeta, sendo que para a promoção de uma sadia qualidade de vida, deve- se ter o despertar da consciência-ação, e de que a forma de consumo seja moderada, os produtos/ materiais/ objetos sejam reaproveitados, reciclados ou reutilizados. Nesse sentido, a fim de perpetuar os seres viventes no planeta, todos e cada um têm a responsabilidade de agir crítica e transformadoramente para o bem da construção de um mundo melhor.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola, 2003.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Meio ambiente e saúde. Brasília: MEC, 1997, v. 9.

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura; STEIL, Carlos Alberto. O hábitus ecológico e a educação da percepção: fundamentos antropológicos para a educação ambiental. Educação e Realidade, dez./2009. p. 81-94.

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra e cultura de sustentabilidade. Revista Lusófona de Educação. Lisboa, Portugal: Universidade Lusofona de Humanidades e Tecnologias, 2005, n. 006. p. 15-29.

JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, mar./2003, n.118. p. 189-205.

LEGAN, Lúcia. A escola sustentável: ecoalfabetizando pelo ambiente. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Pirenópolis, GO: Ecocentro Ipec, 2007. 184 p.

SANTOMAURO, Beatriz. Você faz, o planeta sente. Nova Escola: Ministério da Educação, FNDE, maio 2012, n. 252.

Angélica Endl e Elaine G. Müller

Professoras da Rede Pública Infantil do Município de Ijuí/RS

Brito lateral 2020