"A imagem que ilustra o artigo opinativo da Prof. Dra. Elaine dos Santos é uma tela produzida pelo artista plástico Danrlei Rosa, atendido pela APAE de Restinga Seca. Caso alguém tenha interesse em conhecer o seu trabalho, pode entrar em contato com a APAE daquela cidade pelo telefone 55. 3261.2020"
Nunca tantos souberam tão pouco sobre muitas coisas! A sociedade da informação: televisão, computadores, smartphones facilitou o acesso à informação, embora ela chegue de modo fragmentado e sem qualquer aprofundamento. Ninguém está preocupado em reunir argumentos factíveis, aprofundar conteúdos, vale apenas a máxima: “É a minha opinião” e, conforme afirmou Umberto Eco, o idiota da aldeia viu-se alçado à condição de Prêmio Nobel, se antes mandavam-no calar-se, agora, ele dispõe de um aparato midiático que lhe permite opinar, mas, para o nosso azar, sofrimento e mal-estar, ele o faz sem base argumentativa, sem fundamentação, simplesmente, o seu grande e profundo arcabouço teórico resume-se a “eu acho”, destronando centenas de anos do conhecimento humano.
Neste cenário, insere-se o professor, aquele indivíduo que frequentou uma licenciatura, moveu-se entre teorias pedagógicas e, em tese, foi preparado par atuar em sala de aula, enunciar um discurso do conhecimento, ainda que esse discurso venha calcado em teóricos, doutrinadores, estudiosos de sua área de formação, ele manifesta-se com base no saber instituído, naquilo que a humanidade, durante séculos, reuniu, testou, avaliou e confirmou como um conhecimento válido. Cabe, pois, ao professor expressar o conhecimento instituído, problematizá-lo, discuti-lo, dar vezo à informação que o aluno traz e ser capaz de aceitá-la, discuti-la, contestá-la e, se for o caso, estar dotado de capacidade crítica para refutá-la, se assim for necessário. Os cursos de formação, o investimento pessoal – feito em casa, na leitura de textos pedagógicos, textos específicos da área de formação, textos sobre o cotidiano econômico, político, cultural constituem o cabedal teórico-prático amealhado durante anos que fundamenta o universo daquele docente que se deseja respeitado em seu meio de inserção – a escola e a comunidade. Ele não é apenas detentor do saber de uma ciência, ele é um sujeito protagonista, senhor de si, do seu conhecimento, engajado nos valores professa: ética, moralidade, formação de qualidade, porque, em sua sala de aula, há seres humanos e ele é responsável por esses seres humanos que lhe são confiados para formar, para qualificar.
Ainda que o estatuto clássico da verdade possa ser questionado e que se viva a era da pós-verdade; ainda que o educador admita o saber popular como um saber legítimo – e ele assim o é -, compete-lhe construir o conhecimento com o aluno, ser o seu mediador, apontar-lhe e sugerir-lhe rotas, possibilidades que lhe facilitem o entendimento do mundo, não se olvidando que ele [o professor] está habilitado – a partir dos conhecimentos, competências e habilidades que lhe foram conferidas no curso de graduação – para mediar conflitos, para impulsionar o crescimento do grupo, engendrando formas de propiciar o aprendizado. Não se permite mais que o professor não seja o senhor da sala de aula, que seja dependente das direções e supervisões da escola, refém do Estatuto da Criança e do Adolescente e, ademais, conivente com as ações dos alunos, omitindo-se do seu protagonismo em sala de aula. Se os governos tentam desqualificar professores, se colocam-nos com o pires na mão, se lhes conferem a condição indigna de verem o seu salário durante dois ou três anos sendo “fatiado”, ainda assim, há que se buscar uma força descomunal na alma, porque governos querem exatamente isso, que o professor esmoreça. Afinal, é sempre mais fácil governar um povo mal informado, inculto.
Prof. Dra Elaine dos Santos
Revisora de textos acadêmicos / Palestrante
Currículo Lattes disponível em
http://lattes.cnpq.br/9417981169683930