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Lutar por justiça, sempre!

Por, Prof. Dra. Elaine dos Santos

Matéria Publicada em: 20/07/2018

  

"A imagem que ilustra o artigo da Prof. Dra. Elaine dos Santos é uma tela produzida pelo artista plástico Danrlei Rosa, atendido pela APAE de Restinga Seca. Caso alguém tenha interesse em conhecer o seu trabalho, pode entrar em contato com a APAE daquela cidade pelo telefone 55. 3261.2020"

   “Antígona” é, para mim, a mais exemplar das tragédias gregas, escrita por Sófocles, por volta de 442 a.C. Ela compõe a chamada “Trilogia Tebana”, sendo antecedida por “Édipo Rei” e “Édipo em Colono”.

   Antígona é, na verdade, uma figura mitológica, ela é filha de Édipo e Jocasta. O Oráculo de Delfos previra que Édipo mataria o pai, Laio, rei de Tebas, e desposaria (se casaria) a mãe, Jocasta. Para escapar à profecia, o menino deveria ser morto, assim, ele teria sido abandonado com os dois pés furados para morrer, mas foi recolhido por um pastor e adotado pelos reis de Corinto. Já adulto, ele recebeu a mesma profecia do Oráculo e, achando que os reis de Corinto fossem os seus pais verdadeiros, Édipo fugiu da cidade, no caminho, ele encontrou uma caravana, matou o seu líder, sem saber que se tratava do rei de Tebas, Laio, e seguiu em direção àquela cidade. Na entrada de Tebas, Édipo foi submetido ao desafio da esfinge, quem o decifrasse, se casaria com a rainha, agora viúva. Édipo respondeu corretamente. Cumpria-se, assim, a previsão do oráculo.

   Édipo e Jocasta tiveram quatro filhos: Antígona, Ismênia, Polinice e Eteócles. Anos mais tarde, durante uma peste que assolara Tebas, Édipo e Jocasta tomaram conhecimento que eram mãe e filho, ela suicidou-se e ele vazou (furou) os próprios olhos, para punir-se porque estivera cego diante da realidade durante tantos anos. Édipo passou a vagar pelo deserto, durante 20 anos, na companhia fiel da filha, Antígona. Trata-se do maior exemplo de amor fraternal que se tem conhecimento na literatura ocidental. Após a morte do pai, Antígona retornou a Tebas.

   Nesse ponto, inicia-se a história. Polinice e Eteócles haviam travado uma luta fratricida (entre irmãos) pelo trono e ambos morreram. O tio, Creonte, decidiu que Eteócles receberia as honras fúnebres e Polinice pereceria insepulto. Antígona revoltou-se contra a decisão do tio e tentou, com as próprias mãos, cavar uma sepultura para o irmão, mostrando-se insubordinada diante das leis humanas, mas obedecendo as leis divinas. Antígona, então, foi presa a mando de Creonte. Trava-se um duelo de ideias e ideais: de um lado, a fé e o comprometimento às leis sagradas; de outro, aquele que tenta impor as suas leis, as leis humanas. Destaca-se, neste ponto, a honradez de Hêmon, filho de Creonte, e que deveria ser o marido de Antígona, ainda que subordinado ao pai, ele não deixa de reconhecer a pertinência da atitude da mulher amada e procura argumentar em seu favor, demonstrando o apoio do povo à atitude de Antígona, mas a vaidade e, sobretudo, a sedução exercida pelo poder já haviam dominado Creonte, que se acreditava o único poder sobre a terra, o detentor da verdade sobre os homens. Ao final, convencido pelo sábio Tirésias, Creonte desistiu de mandar matar Antígona, concedeu honras fúnebres a Polinice, mas, ao mandar libertar Antígona, ela já estva morta, assim como já se suicidara o próprio filho de Creonte, Hêmon, que era apaixonado por Antígona, e Eurídice, mulher de Creonte, desesperada ao tomar conhecimento que o filho se matara. Não há escapatória para Creonte, a tragédia se abatera sobre ele, a morte de todos tornou-se a sua eterna companheira.

   Duas lições são-me concedidas pela obra: é preciso acreditar em nossos valores morais, éticos; naquelas ideias que aprendemos a defender através dos exemplos de nossos pais, de nossos mestres. O denodo, a dedicação, o empenho com que Antígona se entrega aos seus: primeiro, ao pai cego; depois, ao irmão morto, que ela julga merecedor de um enterro digno, demonstra que o amor fraternal, que nos une às pessoas que realmente são importantes em nossas vidas, deve mover as nossas boas ações. Um segundo aspecto que me parece crucial: não é a lei fática, mas a lei moral, a ética, que nós precisamos privilegiar – não é porque a lei me diz que não devo entrar num pátio em que há uma vida em perigo que eu vou deixar um ser humano morrer, a vida ainda é o maior bem. A luta quase insana de Antígona por justiça, a meu ver, deveria ser a nossa luta cotidiana, mas...há quem prefira apresentar justificativas e eximir-se, infelizmente!

Professora Elaine dos Santos

Doutora em Letras

Revisora de textos acadêmicos / Palestrante

Brito lateral 2020