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A leitura e a qualificação profissional

Por, Elaine dos Santos | Professora Doutora em Letras (UFSM)

Matéria Publicada em: 04/11/2019

Ao leigo, a cultura dos povos deve estar associada à música, ao teatro, à pintura e uma ou outra manifestação, por vezes, de difícil compreensão.

Boa parte dos valores ocidentais – artísticos, morais, psíquicos, linguísticos - encontra-se baseada nas lendas e mitos de tradição grega. Durante séculos, eles foram transmitidos oralmente, porém, mais tarde, fixados pela escrita, através da epopeia e da tragédia, em particular, tornaram-se parte do nosso patrimônio cultural.

Os textos consagrados de Homero, Ésquilo, Sófocles, Eurípedes são objeto preferencial da Literatura, no entanto, desde o início do século passado, a ciência do Direito tem se debruçado sobre eles, refletindo sobre o poder ritualístico que expressam– as sociedades costumam assentar-se sobre determinados ritos de modo a obterem segurança e progresso -, sobre os códigos de conduta moral e ou social que trazem impressos, entre outros aspectos.

Autores como John Wigmore, James Boyd White, nos Estados Unidos, assim como outros teóricos europeus introduziram uma linha de pensamento, denominada Direito na Literatura, isto é, consideram, como temática nos cursos de Direito, o estudo do fenômeno jurídico a partir dos textos literários. Na verdade, esses textos provocam um deslocamento no olhar do leitor, que, a partir das expressões ficcionais, pode vislumbrar novos mundos, novas situações que escapam ao positivismo tradicionalmente adotado nos cursos de Direito. Com isso, evidentemente, não se postula uma formação jurídica subjetiva, baseada na experiência do julgador, mas o que se entende é a possibilidade de ampliação do seu conhecimento do mundo e, dessa ótica, a expansão reflexiva e o maior lastro cultural para o embasamento de suas ponderações, que determinam o andamento de ações jurídicas.

As narrativas literárias, como epopeias e tragédias, mas também romances, como é o caso de “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, ou “Vidas secas”, de Graciliano Ramos, servem para os operadores do Direito apurarem o olhar sobre a sociedade, eivada em conflitos, feitos de amor, ódio, inveja, traições, medo, mas que, sendo sociais, ocorrem nas instituições privadas ou públicas, na política ou na própria justiça. A metáfora dos textos literários permite compreender o ser humano que se encontra por trás de processos.

Assim sendo, pela leitura reiterada de textos clássicos, calcados em uma linguagem de alto padrão, profissionais de alto nível também amplificam a qualidade de sua formação pessoal e laboral.

Professora Doutora Elaine dos Santos

Autora do livro “Entre lágrimas e risos: as representações do teatro mambembe no teatro itinerante”, que conta a história do Teatro Serelepe.

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