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Por detrás dos contos de fadas

Por, Naiana Ortiz Boeno – professora da rede municipal de ensino

Matéria Publicada em: 28/01/2020

 

  Os famosos contos maravilhosos, ou contos de fadas, advindos da Europa, nascidos em meados do século XVI e adaptados para as crianças a partir do século XIX, tinham por objetivo auxiliar os camponeses a passar por longas noites de inverno. Elas falavam da crueldade, da natureza, da fome e da violência; além, é claro, dos perigos externos. Esses camponeses tinham por costume rodear uma clareira de fogo e, ao uivo dos lobos, ouvir e contar histórias que se misturavam entre lenda e realidade. As crianças, naquela época, ficavam junto aos adultos, pois se tinha outra visão (e importância) de infância a que se temos nos dias atuais. Essa nova versão da infância, datada no século XIX, trouxe consigo questões relacionadas aos contos de fadas que interessaram diretamente para as crianças; visto que a ludicidade passou a fazer parte do cotidiano da contação, com versões adaptadas para elas e, aparentemente, essas histórias deram aos pequenos a possibilidade de identificar-se com os personagens que por elas perpassam. Porém, o que se sabe, é que cada conto maravilhoso tem uma versão original e que, mesmo que sua essência tenha permanecido a mesma ao longo dos tempos, muitos detalhes são “mascarados” ou transformados para o público infantil. Alguns contos contemplam o medo da agressividade sexual dos pais, assim como a rejeição inconsciente de algumas mães por seus filhos. A rivalidade das mães com suas filhas, como em Branca de Neve e Cinderela, a sobrevivência ao abandono, como em João e Maria e Pequeno Polegar; ou então a expulsão do seio familiar vivido pelo Patinho Feio. Essas e muitas outras histórias tratam, na verdade, de situações reais vivenciadas até nos tempos atuais, mas contadas de forma subliminar para que a criança se encante e compreenda em seu inconsciente cada situação. 

  Percebemos, por exemplo, na história de Chapeuzinho Vermelho, criada em 1697, na França, que houve várias versões que foram sendo suavizadas para encaixar-se no público infantil: hoje dita como uma fábula com a moral de que “quem transgride as regras se expõe ao perigo”, tinha anteriormente, como foco, tratar da perda da inocência, da curiosidade sexual, das fantasias de sedução por um adulto, sem contar do papel do medo na construção da função paterna. Então, assim como esse conto, outros também possuem caráter educativo, mas voltado para histórias adultas; o que hoje sobrepõe a ludicidade e a inocência em cada assunto abordado. 

  Da mesma forma, o medo, a expectativa e a ansiedade são alguns dos sentimentos trabalhados nas crianças mediante os contos de fadas, pois a tão temida bruxa e o horrível lobo mau estão entre os primeiros a serem pedidos para se contar e recontar suas histórias e proezas... assim, a criança, além de buscar entender a lição que se pode aprender com cada história, também aprende a trabalhar cada sentimento vivenciado em cada situação lúdica de aprendizagem e divertimento.  

  Muitos contos de fadas contemporâneos estão se agregando cada vez mais ao repertório de histórias infantis. Mesmo com uma moral, eles encantam crianças de todas as idades e entrelaçam-se aos contos tradicionais formando um elo de ligação que permite à criança imaginar, formular suas hipóteses e tirar suas conclusões a cerca de cada personagem, de cada cena, de cada desfecho.  

  De fato, mesmo com diferentes versões, com situações inusitadas, diferentes clímax em cada conto, os contos de fadas são os queridinhos das crianças que, não apenas se divertem ao ouvir, mas também ampliam seu conhecimento de mundo, (re)conhecem e trabalham seus sentimentos e entram no mundo da fantasia, querendo desvendar mistérios e transformar-se nos mais variados personagens que vivem dentro delas... e como nos diz Diana e Mario Corso: “Entre as heranças simbólicas que passam de pais para filhos, certamente, é de inestimável valor a importância dada à ficção no contexto de uma família. Afinal, uma vida se faz de histórias – a que vivemos, as que contamos e as que nos contam.” 

Naiana Ortiz Boeno

Professora da rede municipal de ensino - Ijuí

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