O site Ijuí News teve acesso a depoimentos de testemunhas do caso dos remédios roubados encontrados no Hospital de Caridade de Ijuí (1.nov.19).
No que se refere ao afastamento do presidente do HCI, Cláudio Matte Martins, em tese, por coação no curso do processo, a reportagem constatou pelos depoimentos de testemunhas que teria ele ameaçado “explodir o Cacon” [expressão usada durante reunião para desligamento do coordenador do Cacon], demitindo seu coordenador, médico Fábio Franke, toda a equipe de pesquisa, mais o médico Aníbal Noqueira, da oncologia, e a esposa desse, médica Joice, entre outros.
Veja parte de depoimentos de algumas das supostas vítimas de coação
Extraído do acórdão judicial que negou a volta ao trabalho de três ivestigados afastados
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Em 27-12-2019, o Dr. Fábio prestou novo depoimento à autoridade policial, relatando ter sido chamado para uma reunião com o presidente Cláudio e o diretor Fernando, tendo aquele comunicado seu desligamento da função de coordenador do CACON via CLT, sendo pressionado a pedir demissão, e do desligamento de toda a equipe de pesquisa clínica. Cláudio disse que queria o Dr. Anibal fora do HCI, pois “esculhambou” o nome daquele, e que era dele a culpa pela instauração do inquérito. Juntou gravação da referida reunião, no qual se podem confirmar tais afirmações. Mencionou Claudio, Ivone, Edemar e Fernando, como os responsáveis pela pressão que vem sendo feita a alguns médicos e funcionários em razão dos depoimentos que prestaram na Delegacia de Polícia, com ameaça de demissão e retaliações.
No mesmo sentido foi o relato do Dr. Anibal de Mello Nogueira, que trabalha no setor de oncologia, no que tange à informação dada pelo presidente da Bristol sobre a possibilidade de o HCI estar adquirindo medicamento roubado, tendo ambos comunicado o Dr. Edilson, diretor técnico do HCI, temendo que este caísse num golpe. O Dr. Edilson posteriormente disse ter passado a informação para Ivone. Ao retornarem a Ijuí, o Dr. Fabio comentou que havia falado naquela manhã com Ivone, a qual disse que estava negociando com empresa conhecida, não havendo motivos para desconfianças, e que o presidente tinha conhecimento das negociações. Acrescentou que Ivone negou-se a informar o nome da distribuidora, dizendo que não queria expô-la. Foi então que comentou com a farmacêutica Michele a respeito, a qual disse que Genésio também havia comentado a suspeita., pedindo que ela ficasse atenta, e comunicasse qualquer desconfiança. Tomou então conhecimento pelo delegado, que pedia-lhe uma ajuda técnica, acerca da possibilidade de o HCI estar adquirindo medicamentos roubados. Foi então que foi atrás de Michele, para verificar se a medicação havia dado entrada, tendo esta averiguado e confirmado, enviando fotos a pedido da testemunha, pois se tratava da distribuidora indicada (MEDCampos). Michele comentou que havia estranhado que os medicamentos estavam em temperatura ambiente, pois precisam de refrigeração com controle de temperatura. No dia seguinte, Michele comentou que havia sido demitida em razão de ter fotografado a medicação, sendo que no mesmo dia veio a ocorrer a busca e apreensão da medicação, com prisão de Ivone e Edemar.
Em depoimento prestado ao SINDISAÚDE IJUÍ, o Dr. Anibal relatou que desde a prisão de Ivone tem sido ameaçado indiretamente pelo presidente Cláudio, de demissão, bem como sua esposa Joice, responsável pela UTI, a qual vem sofrendo represálias na escala de médicos e funcionários do setor, pois ele desconfia que foi o declarante que denunciou à polícia a aquisição do medicamento roubado. Mencionou Claudio, Ivone, Fernando, Elisabeth e Edemar como os responsáveis pela pressão que vem sendo feita a alguns médicos e funcionários em razão dos depoimentos que prestaram na Delegacia de Polícia, com ameaça de demissão.
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Também a testemunha Genésio referiu que ao relatar aos advogados do HCI que havia sido chamado a depor sobre o caso dos medicamentos roubados, foi alertado por eles que “tomasse cuidado com o que ia dizer”, que o delegado “queria o rim da Ivone”, e que qualquer coisa a mais que falasse poderia complicar ainda mais a situação dela. Depois de ter prestado depoimento na DP, os demais funcionários passaram a ser acompanhados pelo advogado do hospital, e depois que Ivone voltou a trabalhar, ela passou a “alardear pelo hospital que iria demitir todo mundo que depôs, porque não gostou nada do que viu”, referindo-se aos depoimentos prestados. Isso Ivone também falou em uma reunião com Claudio e Fernando. Soube por outros gerentes que está circulando uma lista das pessoas que serão demitidas, e está com medo de ser demitido, pois ouviu dos colegas que o presidente Claudio disse que “assim que a poeira baixar, vai demitir os Drs. Anibal e Fabio, em razão dos depoimentos que prestaram”. (...).