A intimidade está na conta do escuro.
Uma mulher que transa: isso tem sido motivo de reportagem, exposição e divulgação. Sério mesmo!?
O “espetáculo” que envolve a violência, o fascínio e o gozo que o crime, a tragédia e episódios violentos causam sobre certas pessoas não constitui nenhuma novidade. Desde que seja com o “outro e não me afete”, “tudo bem”. Tudo pode. Tudo pode ser exposto. É a tal da moral à lá carte.
A intimidade das pessoas, casadas ou não, fiéis ou não a seus relacionamentos, está na conta do escuro delas. É muito simplório supor que somos capazes de controlar, conscientemente, os motivos pelos quais amamos, nos apaixonamos, nos relacionamos, odiamos, brigamos etc. Aquilo que aparece – e está na conta da luz -, como a pessoa ser bonita, ser gostosa, cheirosa, querida, pode até explicar uma atração, mas não explica a intimidade.
Dizer que a intimidade está na conta do escuro significa dizer que a intimidade está onde as vulnerabilidades são expostas; as fraquezas, os vícios, as manias se revelam. É na conta do escuro que estão os motivos, mais profundos possíveis (inconscientes), do porquê gostamos de alguém.
E que triste e desnecessária é essa exposição, divulgação e espetacularização de detalhes sexuais de uma mulher – casada ou não – que faz sexo. A polêmica que envolve esse caso evidencia como somos machistas. Façamos uma inversão de papéis: fosse uma mulher, “mendiga”, que tivesse feito sexo com um homem casado, o que isso teria de relevante? Seriam revelados os detalhes sexuais?
A quem interessa os gostos, desejos, vícios e manias sexuais dos outros? A intimidade é algo que deve ficar lá, no íntimo, restrita àquela pessoa ou com que ela se expôs e desejou partilhar um pouco mais de sua conta do escuro.
Não há graça na exposição de detalhes da relação sexual e na exposição da mulher “casada”.
“A intimidade é o encontro de duas contas do escuro (Carpinejar)”. E é lá, no escuro, entre os íntimos, que deve permanecer.
O “mendigo”, ao receber os holofotes, revelou a sua pobreza de caráter.
Não me parece o último dos românticos. Parece apenas mais um idiota.
Por Guilherme Kuhn
Advogado Criminalista