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Telefone celular deveria ter um manual com regra de etiqueta

Por Dra. Elaine dos Santos | Professora aposentada / Revisora de textos

Matéria Publicada em: 24/02/2025
Por Dra. Elaine dos Santos.

Faço parte de uma geração que passou a usar o telefone celular quando já havia ultrapassado a faixa dos 30 anos, ou seja, nascemos, crescemos, estudamos, namoramos, casamos, trabalhamos sem a necessidade obrigatória do contato imediato e indispensável com os nossos familiares e amigos a qualquer momento.

Creio que até mesmo os telefones fixos tiveram os seus preços flexibilizados e a sua aquisição foi viabilizada para as camadas mais humildes da população em meados da década de 1990, talvez depois que o Plano Real “freou” a sanha inflacionária.

Essas lembranças foram provocadas pelas discussões sobre o uso do telefone celular em sala de aula e, com ele, os jogos virtuais, o uso das redes sociais etc.

Observemos, por exemplo, em consultórios médicos como desapareceram as conversas, as partilhas entre pacientes, todos estão “afundados” em seus celulares. O outro é um ser invisível, tal qual um móvel da sala de espera.

Alguém acreditaria que um aluno em sala de aula faria diferente? Ainda mais considerando que as escolas brasileiras, em sua quase totalidade, ainda precisam usar a velha metodologia de quadro e giz, apesar dos esforços dos professores para inovações.

O meu falecido pai padeceu as sequelas de cinco AVCs, durante quatro anos, neste caso, o telefone celular foi importante para que eu tivesse notícias de casa, se houvesse alguma intercorrência. Era, porém, um caso excepcional.

Hoje em dia, eu sou revisora de textos acadêmicos, moro sozinha.

Cotidianamente, o meu telefone está no carro e eu estou em casa ou eu estou no carro e o telefone está em casa, vivemos em descompasso por uma razão bem plausível. Eu preciso de silêncio e tranquilidade para concentrar-me e atentar para o texto que estou revisando: ler, compreender e, se necessário, corrigir, sugerir alterações.

Se a pessoa envia uma mensagem de texto, como eu tenho muita experiência em leitura, é-me muito fácil “correr os olhos” e entender a mensagem. Isso facilita uma resposta quase imediata (depois que eu leio).

Francamente, ficar vários minutos ouvindo uma mensagem de áudio, perder o fio da meada e ter que ouvir novamente é exasperante.

Mas há outra situação deveras desconfortável. Se eu tenho urgência na entrega de um texto, eu trabalho madrugada adentro ou se levanto muito cedo, eu costumo dormir depois do almoço. Já prestaram atenção como é irritante o som de um celular, mesmo apenas o volume da vibração do aparelho quando você está com sono, quando você está cansado?

Por que as pessoas enviam mensagens depois da meia-noite? Por que o fazem às 4h da manhã? Há necessidade de “bater papo” se você avisa que não dormiu na noite anterior e quer descansar após o almoço?

Quem leu até aqui deverá estar pensando: “Que mulher insuportável!” Devo ser mesmo, sou jurássica, respeito regras de trânsito, normas de etiqueta, sou professora licenciada em Letras e tenho o péssimo hábito de seguir as prescrições da gramática culta.

Desconsidere o meu “ranço” e reflita: se adultos não conseguem “esperar” horários civilizados” para enviar mensagens via aplicativos; se adultos enviam verdadeiros “programas noticiosos” via mensagens de áudios, enfim, se adultos não usam telefone celular moderadamente, é possível esperar que os filhos e os netos desses adultos “respeitem” o espaço da sala de aula?

Mario Sergio Cortella aponta que precisamos de escola para educar os pais. Desconfio que não estou sozinha “no meu ranço”.

Por Dra. Elaine dos Santos

Professora aposentada / Revisora de textos

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